sábado, 26 de novembro de 2016

Garcinia




Por: Rose Aielo Blanco*

Ela vem ganhando destaque como “a planta que tira a fome e a vontade de comer doces”. 
Saiba que planta é essa.

Esta planta está se tornando uma nova (e forte) aliada na guerra contra a balança. Trata-se da Garcinia cambogia - uma planta originária das florestas do Camboja, sul da África e Polinésia, cujo fruto apresenta um componente capaz de reduzir a fome e a vontade de comer doces. É o ácido hidroxicítrico (AHC), o principal ácido encontrado na pele do fruto.

Garcinia cambogia é uma planta muito comum em países como Cingapura, Vietnã e Tailândia. Pertencente à família das Gutiferáceas (Clusiáceas), ela é parente do mangostão (Garcinia mangostana L.) - outra fruta do mesmo gênero, mais facilmente encontrada por aqui nos mercados e feiras. (foto ao lado)


A família Clusiáceas engloba 47 gêneros reunindo cerca de 1.000 espécies distribuídas em várias regiões tropicais e subtropicais no mundo. São da mesma família o bacuri (Platonia insignis Mart.), o abricot (Mammea americana L.) e o falso-mangostão (Garcinia cochinchinensis C.). Este último, como o próprio nome indica, é geralmente confundido com o mangostão e é comumente encontrado no Brasil, especialmente em pomares domésticos.

Cultivada em países do extremo oriente e na Índia, a Garcinia cambogia é uma pequena árvore sempre-verde, de copa circular e ramos horizontais. As folhas são simples, opostas, ovaladas, brilhantes e de coloração verde-escura. As flores são carnosas, podendo ser masculinas, femininas ou hermafroditas na mesma planta. Os frutos são amarelos e avermelhados quando maduros, têm o tamanho aproximado de uma laranja e possuem de 6 a 8 gomos, com sementes em arilo.

Na Índia, onde é utilizada há centenas de anos, ela conhecida como tamarindo de Malabar. A Garcinia cambogia é muito aplicada na Medicina Ayurvédica e, por não apresentar nenhuma toxicidade, é amplamente usada na culinária tradicional, especialmente na conservação de alimentos, além de entrar na composição do caril ou curry, uma mistura de especiarias (que varia conforme a região em que é produzida), indicada para condimentar pratos típicos. Na medicina popular, é usada para combater o escorbuto, como digestiva e estimulante da produção da bile.

Sucesso da Garcinia cambogia no tratamento da obesidade

A partir dos relatos de pessoas que consumiam os frutos da Garcinia cambogia e observaram perdas substanciais de peso, muitos estudos botânicos e farmacêuticos começaram a ser realizados, principalmente a partir da década de 60. 
O extrato da Garcínia cambogia começou a ser usado comercialmente como auxiliar na redução do peso e combate à obesidade por volta de 1991. Um dos primeiros estudos realizados nos Estados Unidos, reuniu 50 pessoas que foram distribuídas em dois grupos. Os dois grupos receberam uma dieta controlada, sendo que o primeiro passou a usar também o extrato da Garcinia cambogia, enquanto o segundo recebeu placebo. Ao final de dois meses, o grupo que utilizou o extrato de garcínia apresentou redução de 5,2 Kg, já o grupo que recebeu placebo apresentou redução de 1,6 kg.

O sucesso da Garcinia cambogia no tratamento da obesidade e em regimes de emagrecimento em vários países, especialmente nos Estados Unidos, segundo especialistas, ocorre não só por sua eficácia, mas também porque a planta atua por mecanismos exclusivamente metabólicos, sem interferir no Sistema Nervoso Central.
Estudos indicam que o componente presente na Garcinia cambogia, responsável pela redução da gorduras e pelas propriedades saciantes, é o ácido hidroxicitrato – AHC - (semelhante ao ácido encontrado no limão e na laranja), principal ácido encontrado na pele do fruto.

O AHC apresenta três mecanismos de ação:
* Como agente bloqueador de gorduras – o excesso de carboidratos ingeridos são transformados e armazenados como gordura. Neste processo é necessária a participação de uma enzima chamada ATP-citrato liase. O AHC liga-se a esta enzima bloqueando-a e, por conseqüência, inibindo o armazenamento de gordura.

* Direciona as calorias para outro destino. Ao bloquear a ATP-citrato liase, o AHC acaba por transferir as calorias para a formação do glicogênio (um tipo de açúcar armazenado nos músculos e no fígado). Com o fígado armazenando mais açúcar na forma de glicogênio, ocorre a inibição da vontade de comer doces.

* Como redutor do apetite – o AHC controla o apetite ao promover uma maior síntese de glicogênio, ou seja, quando as reservas de glicogênio estão altas, os receptores do açúcar no fígado são estimulados e enviam um sinal de saciedade ao cérebro (tudo isso sem estimular o sistema nervoso central). De outro lado, o AHC também tem a capacidade de estimular a liberação da serotonina, um neurotransmissor diretamente envolvido no controle do apetite.

Todas essas propriedades têm feito da Garcinia cambogia um ótimo recurso natural para alterar a fisiologia do organismo no sentido de promover a perda de peso. É claro que a planta não é milagrosa. Não basta usar a garcínia e passar a comer qualquer alimento em qualquer quantidade e achar que não vai ganhar peso. É necessário aliar seu uso a uma atividade física para estimular a queima de gordura, além de adotar uma dieta saudável, com poucas gorduras e calorias.

Esta planta asiática ainda não é cultivada comercialmente no Brasil, por isso, a Garcinia cambogia só pode ser encontrada na forma de extrato seco para o preparo do chá e em cápsulas. Mesmo não apresentando nenhum princípio tóxico, por inexistirem estudos suficientes, o uso não é recomendado para crianças, mulheres grávidas ou que estejam amamentando.

Ficha da Planta
Garcinia cambogia


Sin.: G. gummi (Linn)
Nomes populares: tamarindo do malabar, gamboge tree ou hattan yellow (inglês), Vrkshaamla, charaka ou kokam (Ayurvedica)
Família: Gutiferáceas (Clusiáceas)
Origem: florestas do Camboja, sul da África e Polinésia
Solo para cultivo: Os solos mais indicados para o cultivo são os argilo-arenosos, profundos, ricos em matérias orgânicas e bem drenados 
Clima: quente-úmido com chuvas bem distribuídas no ano
Partes mais utilizadas: casca seca e polpa do fruto
Constituintes: Ácido hidroxicítrico (cerca de 30%), lactonas hidroxicítricas, antocianósidos, compostos fenólicos (biflavonóides, xantonas, benzofenonas), sais minerais (na casca) e pectinas predominantemente na polpa




As qualidades da fruta:

* Diurética, facilita a eliminação de líquido pela urina;
* Rica em fibras, auxilia no funcionamento o intestino;
* Inibe a ação da enzima liase, responsável pela formação da gordura pelo fígado;
* Ajuda a absorver a gordura no sangue, melhorando os níveis de colesterol;
* Inibe o apetite, pela redução do hormônio orexina, 
* A planta atua no centro da fome, diminuindo o apetite, sem agir no sistema nervoso central,
*
 A Garcinia cambogia acelera a queima de calorias (processo chamado de termogênese) e previne o acúmulo de gordura no sangue na forma de triglicérides,


Em tempo: O mangostão (Garcinia mangostana L.), que pertence ao mesmo gênero e família da Garcinia cambogia, também apresenta propriedades medicinais. Seu extrato é usado como auxiliar antiinflamatório no tratamento das articulações, tendinites, reumatismo e artrose. Pesquisas recentes indicam o uso do extrato da polpa no tratamento da asma e alergias respiratórias.






Referências:
Heymsfield SB, Allison DB, Vasseli Jr et al – Garcinia cambogia (hydroxycitric acid) as a potential antiobesity agent: a randomized controlles trial. JAMA 18:1956-1600,1998.
Muzzarelli RAA – Human enzymatic activies related to the therapeutic administration of chitrin

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